Após crise, polo têxtil pode virar fornecedor mundial

Previsão otimista é do presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis do Estado de São Paulo

Escrito por: CNTV CUT • Publicado em: 06/10/2012 - 16:44 Escrito por: CNTV CUT Publicado em: 06/10/2012 - 16:44

O setor têxtil e de confecção da RMC (Região Metropolitana de Campinas) é o que mais sofre com a concorrência dos produtos importados, sobretudo da China, que chegam ao País com preços extremamente baixos. Em crise, o setor tem perdido competitividade e fechado postos de trabalho. Para o presidente do Sinditêxtil (Sindicato das Indústrias Têxteis do Estado de São Paulo), Alfredo Emílio Bonduki, apesar do momento delicado, a RMC (Região Metropolitana de Campinas) tem potencial para se tornar um dos grandes exportadores mundiais do setor.


“A expectativa é que o setor consiga ao menos manter os empregos neste segundo semestre e volte a contratar em 2013. Com uma tributação competitiva, esse polo pode se tornar não apenas um grande fornecedor doméstico, mas mundial”, destacou Bonduki. Ele defende uma tributação específica para o setor, a fim de reduzir os custos e possibilitar uma maior competitividade frente aos produtos importados.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista que o presidente do Sinditêxtil, Alfredo Emílio Bonduki, concedeu ao jornal TodoDia:

TodoDia - A presidente Dilma Rousseff (PT) vetou recentemente a ampliação do conceito de faturamento bruto na desoneração da folha de pagamento. O que o senhor achou dessa medida?

Alfredo Emílio Bonduki - Foi uma medida correta, que consertou um equívoco. Do contrário, não haveria desoneração e, em muitos casos, até um aumento de tributação. Houve por parte de nossa entidade, desde o começo, um grande debate a respeito deste ponto que quase passou despercebido. O único ponto que ainda ficou pendente para nosso setor é que o texto não deixou explicito que as tinturarias, estamparias e engomagens estão incluídas, para isso já protocolamos (Sinditêxtil-SP e Abit), na Receita Federal, um pedido para que na regulamentação a ser divulgada isto fique bem claro e estas empresas possam aderir ao novo sistema sem risco de autuação.

No início do setembro o governo federal anunciou a redução da tarifa de energia a partir de 2013, que pode chegar até a 28% de redução. Qual o peso dessa medida para o setor têxtil e de confecção no custo da produção?

Isso varia de segmento para segmento e do tipo de contrato das empresas. Ainda não sabemos calcular com precisão o impacto, mas as fiações serão as mais beneficiadas. A participação da energia no custo das fiações chega a 25%. Outro segmento que terá redução significativa será o de empresas de acabamento e retorções, com um peso que pode chegar a 15% do custo. Já nas tecelagens e confecções o peso é menor. Porém em uma situação em que as margens estão muito apertadas como hoje, toda ajuda é bem-vinda.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que está estimulando o pedido de Salvaguarda realizado pelo setor têxtil e de confecção. O senhor acredita que isso é um indício que a medida será adotada?

O ministro Mantega tem demonstrado muita lucidez quando trata dos assuntos da situação da indústria e de sua competitividade. Ele sabe que a maioria das indústrias é moderna e competitiva da porta para dentro, porém quando esbarra nos problemas de elevada carga tributária, custos financeiros escorchantes e infraestrutura cara, ela não consegue competir e sobreviver. Desta forma, ele vem estimulando desde o fim do ano passado o setor a apresentar estudos que comprovem danos e permitam a implantação de Salvaguardas para a confecção, por três ou quatro anos.

A indústria têxtil e de confecção é uma das que mais sofre com a concorrência dos produtos importados. Dá para esperar por um ano melhor em 2013?

As medidas anunciadas pelo governo são paliativas e algumas, como a desoneração, com prazo para acabar. Não mudará muito o cenário e não inibe a concorrência predatória da Ásia, cujas vantagens são muito superiores e não são essas medidas que irão reduzir a concorrência. É preciso a implantação urgente de um regime tributário específico para o setor. Enquanto isso não acontece, precisamos da Salvaguarda, que também é uma medida temporária. Outro fator que pode ajudar é o câmbio em um patamar mais elevado, acima de R$ 2,00.

O deficit da balança comercial da cadeia têxtil cresceu quase seis vezes em cinco anos (de 2007 a 2011). Além das medidas já anunciadas, o que precisa ser feito para reverter o resultado?

Um regime tributário específico para confecção como já foi dito. Contudo, ainda é necessário que o mundo condene a concorrência desleal e predatória da China, questionando na OMC (Organização Mundial do Comércio) os inúmeros subsídios e o dumping cambial. Enquanto nada disso é feito, a Salvaguarda é a única forma de reduzir o déficit, porém também é temporária. Precisamos de um maior controle aduaneiro e medidas mais contundentes na ação da Receita federal nos portos.

Em agosto, segundo pesquisa da Fiesp e Ciesp, o setor textil e de confecção fechou seis mil empregos no Estado de São Paulo. Como o senhor avalia esse resultado?

São Paulo vem sofrendo mais que a média do Brasil. O setor têxtil e de confecção contratou mais do que demitiu, segundo o Caged, no mês de agosto. Mas, São Paulo tem perdido também competitividade em função da Guerra dos Portos. Os estados que praticam subsídio aos importados acabam com preços finais melhores do que os produtos produzidos em São Paulo. A entrada em vigor da Resolução 13 do Senado, em janeiro de 2013, irá corrigir uma parte deste problema.

Especialmente em Americana e região, a queda no nível de emprego preocupa o setor. As medidas recentes anunciadas pelo governo podem a médio prazo amenizar o corte de empregos do setor?

O setor está entrando no período sazonal. O segundo semestre geralmente é mais aquecido. A produção física já caiu menos em julho e deve se estabilizar lentamente no segundo semestre, porém longe da performance dos anos anteriores. A desoneração trará resultados a médio prazo, principalmente na próxima coleção. Nossa expectativa é que o setor consiga ao menos manter os empregos neste segundo semestre e volte a contratar em 2013. Tudo vai depender de como se comportará a demanda no varejo, a venda de produtos têxteis.

A RMC (Região Metropolitana de Campinas) tem inúmeras empresas do setor têxtil envolvidas em toda a cadeia de produção. Qual a importância da região para o setor?

É o principal produtor de tecido sintético e de denim do Brasil e um polo de confecções importante. Contudo, ainda é uma região que não exporta muito, mesmo quando o câmbio estava favorecido. Creio que, com uma tributação competitiva, esse polo pode se tornar não apenas um grande fornecedor doméstico, mas mundial. Além do mais, é grande empregador de mão de obra feminina o que é vital, já que a maioria das empresas que vem investindo na região (automotivas e tecnologia) emprega poucas mulheres. Americana e região são conhecidas mundialmente como o maior polo têxtil da América Latina, com um a produção integrada e diversificada, que se modernizou e vem investindo em tecnologia e inovação. Temos a obrigação de apoiar e preservar este verdadeiro patrimônio da economia nacional, construído com o esforço de várias gerações. Não podemos entregá-la inocentemente aos países asiáticos.

 

Fonte: Indústria Têxtil e do Vestuário

Título: Após crise, polo têxtil pode virar fornecedor mundial, Conteúdo: O setor têxtil e de confecção da RMC (Região Metropolitana de Campinas) é o que mais sofre com a concorrência dos produtos importados, sobretudo da China, que chegam ao País com preços extremamente baixos. Em crise, o setor tem perdido competitividade e fechado postos de trabalho. Para o presidente do Sinditêxtil (Sindicato das Indústrias Têxteis do Estado de São Paulo), Alfredo Emílio Bonduki, apesar do momento delicado, a RMC (Região Metropolitana de Campinas) tem potencial para se tornar um dos grandes exportadores mundiais do setor. “A expectativa é que o setor consiga ao menos manter os empregos neste segundo semestre e volte a contratar em 2013. Com uma tributação competitiva, esse polo pode se tornar não apenas um grande fornecedor doméstico, mas mundial”, destacou Bonduki. Ele defende uma tributação específica para o setor, a fim de reduzir os custos e possibilitar uma maior competitividade frente aos produtos importados. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que o presidente do Sinditêxtil, Alfredo Emílio Bonduki, concedeu ao jornal TodoDia: TodoDia - A presidente Dilma Rousseff (PT) vetou recentemente a ampliação do conceito de faturamento bruto na desoneração da folha de pagamento. O que o senhor achou dessa medida? Alfredo Emílio Bonduki - Foi uma medida correta, que consertou um equívoco. Do contrário, não haveria desoneração e, em muitos casos, até um aumento de tributação. Houve por parte de nossa entidade, desde o começo, um grande debate a respeito deste ponto que quase passou despercebido. O único ponto que ainda ficou pendente para nosso setor é que o texto não deixou explicito que as tinturarias, estamparias e engomagens estão incluídas, para isso já protocolamos (Sinditêxtil-SP e Abit), na Receita Federal, um pedido para que na regulamentação a ser divulgada isto fique bem claro e estas empresas possam aderir ao novo sistema sem risco de autuação. No início do setembro o governo federal anunciou a redução da tarifa de energia a partir de 2013, que pode chegar até a 28% de redução. Qual o peso dessa medida para o setor têxtil e de confecção no custo da produção? Isso varia de segmento para segmento e do tipo de contrato das empresas. Ainda não sabemos calcular com precisão o impacto, mas as fiações serão as mais beneficiadas. A participação da energia no custo das fiações chega a 25%. Outro segmento que terá redução significativa será o de empresas de acabamento e retorções, com um peso que pode chegar a 15% do custo. Já nas tecelagens e confecções o peso é menor. Porém em uma situação em que as margens estão muito apertadas como hoje, toda ajuda é bem-vinda. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que está estimulando o pedido de Salvaguarda realizado pelo setor têxtil e de confecção. O senhor acredita que isso é um indício que a medida será adotada? O ministro Mantega tem demonstrado muita lucidez quando trata dos assuntos da situação da indústria e de sua competitividade. Ele sabe que a maioria das indústrias é moderna e competitiva da porta para dentro, porém quando esbarra nos problemas de elevada carga tributária, custos financeiros escorchantes e infraestrutura cara, ela não consegue competir e sobreviver. Desta forma, ele vem estimulando desde o fim do ano passado o setor a apresentar estudos que comprovem danos e permitam a implantação de Salvaguardas para a confecção, por três ou quatro anos. A indústria têxtil e de confecção é uma das que mais sofre com a concorrência dos produtos importados. Dá para esperar por um ano melhor em 2013? As medidas anunciadas pelo governo são paliativas e algumas, como a desoneração, com prazo para acabar. Não mudará muito o cenário e não inibe a concorrência predatória da Ásia, cujas vantagens são muito superiores e não são essas medidas que irão reduzir a concorrência. É preciso a implantação urgente de um regime tributário específico para o setor. Enquanto isso não acontece, precisamos da Salvaguarda, que também é uma medida temporária. Outro fator que pode ajudar é o câmbio em um patamar mais elevado, acima de R$ 2,00. O deficit da balança comercial da cadeia têxtil cresceu quase seis vezes em cinco anos (de 2007 a 2011). Além das medidas já anunciadas, o que precisa ser feito para reverter o resultado? Um regime tributário específico para confecção como já foi dito. Contudo, ainda é necessário que o mundo condene a concorrência desleal e predatória da China, questionando na OMC (Organização Mundial do Comércio) os inúmeros subsídios e o dumping cambial. Enquanto nada disso é feito, a Salvaguarda é a única forma de reduzir o déficit, porém também é temporária. Precisamos de um maior controle aduaneiro e medidas mais contundentes na ação da Receita federal nos portos. Em agosto, segundo pesquisa da Fiesp e Ciesp, o setor textil e de confecção fechou seis mil empregos no Estado de São Paulo. Como o senhor avalia esse resultado? São Paulo vem sofrendo mais que a média do Brasil. O setor têxtil e de confecção contratou mais do que demitiu, segundo o Caged, no mês de agosto. Mas, São Paulo tem perdido também competitividade em função da Guerra dos Portos. Os estados que praticam subsídio aos importados acabam com preços finais melhores do que os produtos produzidos em São Paulo. A entrada em vigor da Resolução 13 do Senado, em janeiro de 2013, irá corrigir uma parte deste problema. Especialmente em Americana e região, a queda no nível de emprego preocupa o setor. As medidas recentes anunciadas pelo governo podem a médio prazo amenizar o corte de empregos do setor? O setor está entrando no período sazonal. O segundo semestre geralmente é mais aquecido. A produção física já caiu menos em julho e deve se estabilizar lentamente no segundo semestre, porém longe da performance dos anos anteriores. A desoneração trará resultados a médio prazo, principalmente na próxima coleção. Nossa expectativa é que o setor consiga ao menos manter os empregos neste segundo semestre e volte a contratar em 2013. Tudo vai depender de como se comportará a demanda no varejo, a venda de produtos têxteis. A RMC (Região Metropolitana de Campinas) tem inúmeras empresas do setor têxtil envolvidas em toda a cadeia de produção. Qual a importância da região para o setor? É o principal produtor de tecido sintético e de denim do Brasil e um polo de confecções importante. Contudo, ainda é uma região que não exporta muito, mesmo quando o câmbio estava favorecido. Creio que, com uma tributação competitiva, esse polo pode se tornar não apenas um grande fornecedor doméstico, mas mundial. Além do mais, é grande empregador de mão de obra feminina o que é vital, já que a maioria das empresas que vem investindo na região (automotivas e tecnologia) emprega poucas mulheres. Americana e região são conhecidas mundialmente como o maior polo têxtil da América Latina, com um a produção integrada e diversificada, que se modernizou e vem investindo em tecnologia e inovação. Temos a obrigação de apoiar e preservar este verdadeiro patrimônio da economia nacional, construído com o esforço de várias gerações. Não podemos entregá-la inocentemente aos países asiáticos.   Fonte: Indústria Têxtil e do Vestuário



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